As fotos acima foram tiradas hoje pela manhã, dia 21/11/10. Final de novembro, início da alta temporada. Um canteiro de obra enorme enfeiando a praia e o cais de turismo sendo contruído a toque de caixa, enquanto nossos tão preciosos TURISTAS embarcam no único cais que lhes sobra (porque não vieram de navio), ao lado do barco do lixo, num fedor insuportável, porque eu estava lá e posso garantir que fedia muito. Porque não tem cais pra tanta demanda, nem ordenamento para tal.
Tenho a impressão que existem duas Ilhas Grandes.
Uma vendida como 2a. maravilha do Rio, parada obrigatória de navios transatlânticos, presente em feiras, eventos por todo o Brasil, representada de forma orgulhosa pelo Poder Público e Privado, instituições e mais instituições defendendo o meio ambiente. Estudos, projetos, e blá blá blá blá blá ......
E outra, que é a que vemos cada vez que embarcamos e desembarcamos no Abraão, ou quando temos que desviar dos cocôs de tantos cachorros de rua, ou quando passamos ao lado do lixo espalhado pelas ruas, caídos das poucas cestas coletoras da vila,
ou quando precisamos passar pelo cemitério entregue somente aos mortos, ou pela praça da escola cheia de mato, ou pelas ruas elamaçadas e cheias de poças nos dias de chuva e etc.etc.etc...
Vou parar porque não quero contribuir com a sujeira na imagem da minha querida ilha pela internet.
Mas quero falar sobre o Convention & Visitors Bureau, nome bonito, pomposo, com um presidente galante, bem articulado, que vende como ninguém a Ilha Grande no trade turístico e só vive na mídia ultimamente. Na rádio essa semana, ouvindo a propaganda do blog dele, não pude deixar de dar uma olhada.
Li seu nome e vi seu rosto tantas vezes numa mesma página que me cansei. Não gosto de demagogia. Tem mais vezes o nome dele do que o da prórpia Ilha. Parece até mais um pré candidato.
Mas, enfim, o que me chamou a atenção e gerou essa nota de repúdio e revolta, foi a matéria dele no youtube sobre a contratação do cais flutuante, exclusivamente para atender aos turistas dos navios que vêm visitar a ilha no verão (e somente no verão).
Cabem aí dois comentários:
1º - No verão a ilha se vende sozinha. Nunca precisou de fomento no turismo, porque ela sempre encheu, independentemente de navio. A ilha sempre foi belíssima e há muito vive do turismo. O que não significa dizer que os navios não sejam bons para o Abraão, que fique claro. Acho que são sim. Apenas afirmar que eles "salvam" o turismo e garantem empregos no verão é ridículo, patético e pura demagogia. Salvariam sim se viessem fora da alta temporada também, o que não acontece. Vender a ilha no verão, pra quem é do ramo então, é fácil fácil.
2º - Foi o que mais chamou a minha atenção: a discriminação vergonhosa ao TURISTA QUE NÃO VÊM DE NAVIO. Tanto do presidente da instituição pomposa acima, quando em entrevista afirmou que: "precisa receber seus turistas náuticos num cais bonito, com régua de deck, bem ao nível do desembarque do pessoal que chega dos transatlânticos"; quanto da Prefeitura, na pessoa do Sr. Marcus Vinissius, presidente da Turisangra, que em entrevista à TV também afirmou que:
"o cais flutuante servirá exclusivamente para segurança e conforto a quem desembarca por navio".
AS PERGUNTAS CRUEIS QUE NÃO GOSTARIA DE FAZER SÃO:
- E QUEM NÃO VEM DE NAVIO?
- Em qual "NÍVEL" esses senhores gestores qualificam os demais turistas que embarcam em Angra e desembarcam em Abraão?
Aqueles turistas que entram numa barca velha, enferrujada, atracada num cais nogento, fedido e cheio de pescado, e desembarcam em Abraão num cais abarrotado, sem nenhuma estrutura e numa verdadeira muvuca?
- Ou qual seria o "NÍVEL" daqueles que embarcam em Angra num cais premiado pelo Ministério de Turismo como um dos 65 melhores do Brasil e desembarcam na mesma imundice que os demais????
A Prefeitura agora vai pagar aluguel de um cais exclusivo para os turistas que vêm de navios com o nosso dinheiro. Custo desnecessário e vergonhosamente discriminatório. Pois as obras do cais de turismo ficaram paradas o ano todo por incompetência da Prefeitura e em função das campanhas milionárias dos políticos de Angra, e poderiam estar prontas há muito tempo, se houvesse seriedade e responsabilidade por parte do Sr. Tuca Jordão, prefeito "INEPTO" dessa Cidade.
Vale destacar que o cais flutuante, "solução" encontrada pelo galante presidente do Convention & Visitors Bureau "para receber seus turistas náuticos num cais bonito e bem ao nível do desembarque do pessoal que chega dos transatlânticos" foi aprovada em 5 minutos pelo Prefeito Tuca" segundo matéria do Youtube postada no blog do pomposo e elegante presidente da instituição.(http://www.youtube.com/watch?v=_4EbivlIHDE&feature=related).
Com ou sem licitação? E porque o cais de turismo não mereceu essa mesma prontidão nas obras? Será que faltou galanteio no pedido?
Esse é o Abraão que nós vemos. Que nós temos. É o Abraão real.
Temos instituições e ONGS que defendem e protegem tudo: o parque, as árvores, os bichos, os peixes, o mar, os turistas que vêm de navio e até os bolsos de muita gente.
Mas a ilha ta precisando mesmo é de uma ONG que defenda OS TURISTAS QUE NÃO VÊM DE NAVIO, muitos deles estrangeiros. Aqueles que desembarcam na vila e pagam para se hospedar, passam vários dias conhecendo nossas belezas, almoçam em vários restaurantes, passeiam por inúmeras praias, e movimentam toda a economia da vila, inclusive os empresários do ramo de hospedagem que investem muito alto para recebe-los bem.
Porque esses turistas estão sendo tratados com total desrespeito pelo poder público, que coloca-os em igualdade de valores com o lixo fedido produzido todos os dias, enquanto super valorizam exclusivamente os turistas "day use", que não gastam 1/10 do valor de quem vem pra ficar, e só enchem os bolsos dos gestores envolvidos no negócio.
A economia do Abraão já foi muito prejudicada pelas chuvas do final do ano, assim como toda a cidade, e registrou o pior ano de sua história.
E agora, na chegada do verão, momento em que a vila deveria estar pronta para se recuperar, com sua imagem restaurada, vê mais um verão chegando com problemas e mais problemas para serem enfrentados sozinhos, e MUITA demagogia e blá blá blá dos gestores públicos e de turismo da ilha.
Tenho 33 anos de amor a Ilha Grande e uma vida inteira construída lá. E nem nos tempos do presídio vi tanto descaso do Poder Público com aquele paraíso.
Mas..... quem mora em Angra já está se habituando a não ter serviço público.
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