Especialistas apontam problemas que prejudicariam população em acidente nas usinas
Rio - Área de esvaziamento subestimada; plano de emergência pouco treinado e desconhecido pela população; rotas de fuga ineficientes da cidade e das ilhas; abrigos despreparados e risco de contaminação do litoral. Especialistas em gerenciamento de riscos apontaram sete erros no plano de segurança para situações de emergência das usinas nucleares Angra 1 e 2, após problemas em usinas do Japão, devido a terremoto e tsunami.
A região de Angra dos Reis já registrou abalos sísmicos na década de 1990 e em 2008 — quando um tremor de 5,2 graus na escala Richter sacudiu estados do Sul e Sudeste.
A Defesa Civil municipal informou ontem que estudará mudanças no plano de emergência. Segundo o órgão, segue padrão internacional. O governo federal anunciou que as 4 usinas previstas no País até 2030 terão sistema mais seguro. Preocupado, o marinheiro Rogério Dias, 52 anos, mantém barco abastecido para retirar oito pessoas em emergência.
Embora ressalte que a probabilidade de ocorrência de acidentes seja mínima, o especialista em gerenciamento de riscos da Correcta Seguros Gustavo Mello aponta problemas no plano emergencial de Angra. “No Brasil, não há cultura de prevenção de riscos. As pessoas não sabem o que fazer em acidentes. O alarme de alerta às vezes dispara e a população se acostumou”. Ex-prefeito de Angra, o deputado federal Fernando Jordão (PMDB) aponta problemas nas rotas de fuga e nos abrigos. “São escolas sem vedação. É algo precário. A Rio-Santos está horrível; não tem orçamento previsto para recuperação. O aeroporto é ineficiente, precisa ser ampliado e iluminado. A população das ilhas tem rota de fuga passando na área das usinas”, afirma Jordão, que integra a Comissão de Minas e Energia da Câmara.
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O ambientalista Ricardo Baitela, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace, acredita que a área de esvaziamento por acidente deveria ser maior. “O raio deveria ser de no mínimo 20 quilômetros, sobretudo porque a região tem densidade populacional acima do indicado”.
Plano próprio de emergência
Morador da Praia do Frade, uma das regiões que terá que ser esvaziada em caso de vazamento, o marinheiro Rogério Dias diz que há quatro anos não participa de simulação na cidade. “Se tiver acidente, não acho que vai ter ônibus para todo mundo. Por isso, decidi que vou retirar toda a minha família de barco pelo mar”, avisa ele, que trabalhou oito anos em Usina de Angra.
O Ciep Perequê, no Parque Mambucaba, em Angra dos Reis, é uma das escolas consideradas como abrigo em caso de acidente nuclear. A unidade fica fora do raio de risco de 5 quilômetros, mas de acordo com a diretora da escola, Janete Maria Nunes, 54 anos, as salas não têm vedação para impedir a entrada de radiação.
“Temos poucas simulações de acidentes. É ruim porque não cria hábito. Em acidente, se houver pânico, as pessoas não saberão o que fazer”, preocupa-se. Uma vez por ano acontece um ciclo de palestras. “Tinha que ser semanal, como no Japão”, defende.
No Brasil, sistema diferente
As usinas nucleares de Angra possuem sistemas de funcionamento diferente das japonesas. Os reatores de Angra 1 e 2 contam com dois sistemas de resfriamento, enquanto as termonucleares nipônicas tem só um. De acordo com especialistas, a existência de dois sistemas acoplados permite maior flexibilidade no caso de situações acidentais.
As usinas do Rio foram construídas com capacidade para suportar terremotos de até 7 graus e ondas com altura de 6 metros. A região onde foram construídas Angra 1 e 2 chama-se Itaorna, ‘pedra podre’ em tupi-guarani.
Novas usinas serão automáticas
As 4 usinas de energia nuclear que deverão ser construídas no Brasil em 19 anos terão sistemas automáticos, considerados mais seguros, usados na Alemanha e EUA. Segundo Laercio Antonio Vinhas, diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear do Ministério de Ciência e Tecnologia, o sistema não tem intervenção humana ou é acionado. A Eletronuclear informou que o plano de emergência prevê ações em área de até 5 km em torno da usina, que conta com sistema de som com alertas e informações. Estações locais de rádio e TV poderão divulgar instruções.